Viewing entries tagged
Ricardo Paolinelli

Menos sexismo no novo dicionário espanhol

Comment

Menos sexismo no novo dicionário espanhol

A Real Academia Espanhola suprimirá em 2014 definições contestadas por serem machistas

Por TEREIXA CONSTENLA

Madri 24 NOV 2013 - 03:58 CET

Algumas definições são inexatas, apesar de terem sido incorporadas no século XX

Borges ironizou com sua inclemência característica o Dicionário da Real Academia Espanhola (Drae): “Cada nova edição dá saudade da anterior”. Não parece que isso vai ocorrer com a 23ª versão, que sairá no final de 2014 – pelo menos do ponto de vista do sexismo. Algumas das acepções mais criticadas por terem viés machista desaparecerão. Quem perdeu o pai deixará de ser mais órfão do que quem não tem mãe. “Feminino” não equivalerá mais a “débil, fraco”, assim como “masculino” deixará de ser “varonil, enérgico”. Também “babosear” (encher ou melar com baba, na primeira definição) deixará de ter entre suas variadas definições a de “presentear uma mulher com excesso” (embora esta já tenha sido retirada durante uma das cinco atualizações realizadas desde 2001, quando se publicou a 22ª. edição do Drae).

Nos quase 93.000 verbetes que a nova obra reunirá (5.000 a mais do que a atual) serão incorporadas emendas em nomes de profissões ou atividades desempenhadas por mulheres. Entre outras, aparecerão também com terminação feminina palavras como “alfarero” (oleiro), “camillero” (maqueiro), “cerrajero” (serralheiro), “enterrador” (coveiro), “herrero” (ferreiro), “picapedrero” (canteiro), “costalero” (carregador) e “soldador” (soldador). Outras passam a ser um substantivo de dois gêneros, ou seja, um termo masculino ou feminino de acordo com o contexto, que serve para mulheres ou homens sem a necessidade de alterar a terminação: “el/la concertino” (primeiro/a violinista), “el/la submarinista” (igual em português), “el/la guardabosque” (guarda florestal).

“A edição de 2014 terá milhares de novidades, algumas tão minúsculas que os leitores nem vão notar”, afirma o seu diretor, Pedro Álvarez de Miranda, acadêmico e professor titular de Língua Espanhola. “Trata-se de que o Dicionário seja melhor, não menos machista, mas que o que disser seja verdade. Parece que só agimos a pedido de alguma parte, e não é assim... Não se muda por causa de protestos, e sim porque não é verdade. O que não se pode pretender é mudar a realidade por meio do Dicionário. Se a sociedade é machista, o Dicionário a refletirá. Quando a sociedade muda, o Dicionário muda”, acrescenta.

Eulàlia Lledó, uma professora de Língua e Literatura do ensino médio que há anos pesquisa os vieses machistas da linguagem, só compartilha de um aspecto com o acadêmico: o retrato da realidade. Na opinião dela, a Academia é refratária a incorporar usos igualitários que estão na rua. “O Drae está a anos-luz da sociedade. Arrasta uma inércia da qual parece gostar. Uma das missões do Dicionário é refletir a realidade. Se você lê as definições de ‘mãe’, ‘pai’ ou ‘órfão’, verá que não a refletem. O androcentrismo e o sexismo são lugares-comuns que contradizem a realidade.”

Trata-se de que o Drae seja melhor, não menos machista

ÁLVAREZ DE MIRANDA, DIRETOR

Convenhamos que não é fácil para a Academia. Retrocedamos até 1992, um ano em que ocorreram tantas coisas na sociedade espanhola que nem havia tempo para palavras. Para se somar à festa, a RAE (Real Academia Espanhola) publicou a 21ª. edição do Dicionário, a segunda a ser corrigida na democracia, e apenas oito anos depois da anterior, sem emendar nenhuma das definições que a realidade estava atropelando com toda a pressa, como “periquear” (“desfrutar uma mulher de excessiva liberdade”) ou “gozar” (“conhecer carnalmente uma mulher”), que havia figurado na versão de 1780 (“gozar de uma mulher: ter conjunção carnal com ela, consentindo ela ou padecendo de violência”) e depois desapareceu. E, embora seja verdade que figuraram verbetes como “juíza”, “vereadora” ou “machismo”, a RAE continuou relutando em incluir “médica”. Um termo com uma estranha evolução: está registrado no cânone lexicográfico de 1925 (“mulher que se encontra legalmente autorizada para professar e exercer a medicina”), mas foi erradicado de edições posteriores até 2001.

Em alguns aspectos, o Drae retrocedeu no século XX. Na época em que os direitos da mulher eram consagrados como um pilar básico das sociedades modernas – claro que na Espanha a igualdade (e não só ela) enfrentou obstáculos durante quatro décadas –, o Dicionário incorporou acepções que proclamam a submissão das mulheres, como a citada “babosear”, ou que as menosprezam, como ocorre em “huérfano” (órfão). Até a versão de 1925, a definição é impecável e mantém mínimas matizes em relação à adotada no século XVIII pelos primeiros redatores: “A pessoa que já não tem pai, ou mãe, ou a quem lhe falta um e outro”. É no século XX que se acrescenta o aposto que deixa a pessoa mais órfã se ela perder o pai do que a mãe.

"Médica” apareceu no feminino na versão de 1925, mas o termo foi posteriormente suprimido

A RAE, que agora erradicará essas definições da sua principal obra, custou a dar o passo, apesar de já ter encomendado um relatório a três especialistas (entre elas Eulàlia Lledó) na década de 1980 para que apontassem traços sexistas no Dicionário, com o objetivo de melhorar a edição de 2001. “Do trabalho que fizemos, poucas coisas foram reconhecidas. Acho que quando viram a envergadura decidiram mudar pouco. Pagaram por um trabalho que jogaram fora”, recorda a filóloga. No estudo, elas não se limitavam a revisar as definições, pois também analisaram os exemplos, onde detectaram uma clara hegemonia do masculino e uma abundância de casos pejorativos em definições femininas. “Custa menos introduzir mudanças que tenham a ver com as profissões do que com aspectos relativos ao físico, ao moral e ao sexual”, afirma Lledó. As difíceis relações entre a Academia e as feministas são ilustradas pelo debate gerado no ano passado por um relatório do acadêmico Ignacio Bosque sobre os guias de linguagem não sexista, em que ele afirmava: “Ninguém nega que a língua reflita, especialmente em seu léxico, distinções de natureza social, mas é muito discutível que a evolução da sua estrutura morfológica e sintática dependa da decisão consciente dos falantes, ou que possa ser controlada com normas de política linguística”.

O sexismo da linguagem começou a ser combatido em nível internacional durante a primeira Conferência Mundial sobre a Mulher, celebrada em 1975 no México. Ele não é exclusivo das línguas latinas. O inglês carrega seus preconceitos. Num artigo há alguns anos, Deborah Cameron, professora de Língua e Comunicação da Universidade de Oxford, citava “fireman” (bombeiro), gerada a partir da palavra “man” (homem), mas substituída pelo integrador “firefighter” após pressões dos movimentos feministas. Dito isso, ela avisava que a linguagem anda à solta: “As instituições podem legislar sobre a linguagem, mas as reformas só funcionam se a maioria dos falantes as aceita. As pessoas nunca consultam as autoridades antes de abrirem a boca”. A esta altura, ninguém mais concorda com a provocação feita certa vez por Leopoldo Alas: “Somos os senhores da língua”.

O androcentrismo é um lugar-comum que não reflete a realidade

EULÀLIA LLEDÓ, ESPECIALISTA

As palavras nascem, morrem e se transformam, em geral, pela vontade de todos, e não de alguém em particular (salvo exceções: “mileurista” – jovem adulto espanhol com salário de até mil euros por mês – tem uma mãe reconhecida, que cunhou o termo numa carta a este jornal, e a palavra então se espalhou como pólvora). Nisso estão de acordo os fazedores de dicionários e aqueles que os submetem a auditorias externas. “As línguas dependem das pessoas, e as coisas vão no seu curso”, admite Eulàlia Lledó.

“O Dicionário precisa refletir a realidade, e toma nota do que passa do uso ao desuso. Mas o Dicionário não pode acelerar o processo”, defende Álvarez de Miranda. “Sexo frágil”, por exemplo, “pode estar perto da necessidade de ter uma marcação de vigência, porque provavelmente hoje se use pouco, mas na próxima versão sairá sem marca”. Em 2014, serão mantidas as definições de “sexo frágil” como “o conjunto das mulheres”, e “sexo forte” ou “feio” como “o conjunto dos homens”. Outra herança sexista do século XX.

“GOZOS” E SOMBRAS NO DRAE

Algumas das seguintes definições do Dicionário da Real Academia Espanhola serão modificadas na edição a ser publicada no final de 2014.

Huérfano (órfão). Diz-se de uma pessoa menor de idade: de quem morreu o pai, a mãe ou um dos dois, especialmente o pai.

Gozar. Conhecer carnalmente uma mulher.

Cocinilla (diminutivo de “cocina”, cozinha). Homem que se intromete nas coisas, especialmente domésticas, que não são de sua incumbência.

Periquear (de “perico”, periquito). Dito de uma mulher: desfrutar de liberdade excessiva.

Cancillera (aparente forma feminina de “chanceler”, mas na verdade com a mesma origem de “calha”). Vala ou canal de desague nos limites das terras aráveis.

Edén. Paraíso terreno, morada do primeiro homem antes da sua desobediência.

Hombre (homem). Ser animado racional, varão ou mulher. / Indivíduo que tem as qualidades consideradas varonis por excelência, como a coragem e firmeza.

Mujer (mulher). Pessoa do sexo feminino / Que tem as qualidades consideradas femininas por excelência.

Femenino (feminino). Débil, fraco.

Masculino. Varonil, enérgico.

Padre (pai). Homem ou macho que engendrou / Cabeça de uma descendência, família ou povo. / Pai de família: chefe de uma família, embora não tenha filhos.

Madre (mãe). Fêmea que pariu / Mãe de família: mulher casada ou viúva, cabeça da sua casa.

(Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil/2013/11/25/cultura/1385393359_374602.html

Comment

1 Comment

El rock como una necesidad vital

Por Beatriz Vignoli

Hoy a las 19 en El Diablito Bar (Maipú 622) se presenta el segundo libro del narrador y periodista Juan Cruz Revello, ¿Quién no pensó en matarse alguna vez? Rápido de reflejos como el Torito Cavenaghi, salido de imprenta el mes pasado bajo el sello Casagrande Ediciones con prólogo de Leonardo Oyola, el libro abre la temporada de eventos literarios con una oferta 2x1 de cerveza, Agustín Aranda como presentador, y música por el Dj Eloy Quintana.

Coordinador artístico de radios como Rock and Pop y Metro Rosario, Revello fue uno de los autores convocados por Sergio Rébori para escribir parte del libro Generación subterránea, que rescata del olvido el lado B del rock de Rosario. "Fue fundamental el rock", dice el narrador de ¿Quién no pensó en matarse alguna vez?, "ya no teníamos los recreos de la escuela, ni la pelota y el circo, pero teníamos el rock". Parece una ironía tragicómica que un libro como este, con soundtrack propio, cuyos desangelados pibes de provincia son al rock lo que al jazz los bohemios cínicos de la novela de Julio Cortázar Rayuela, salga justo cuando el país tira al rock en la bolsa de los placeres prescindibles.

Nacido en 1977 en Junín (provincia de Buenos Aires), entrado en la adolescencia con los '90 del arrasamiento neoliberal, Revello (que vive desde hace 20 años en Rosario) evoca desde las primeras líneas su ciudad natal: "Yendo por España hacia el norte, llegando a Dorrego, doblando a la izquierda, si hacés una cuadra, te chocás con la Plaza Pringles, que está justo frente a la estación de trenes. En ese lugar pasamos el noventa por ciento de nuestra infancia". "Nosotros" son el narrador (Héctor) y sus amigos: el doctor, Armandito, Patota, el Caballero Rojo y otros. "Tengo, o tenía, muchos amigos. Y los extraño. En realidad, no los extraño tanto a ellos, sino a nuestro pasado", dice Héctor en una voz perfectamente creíble, coloquial, inmediata.

Esa voz lleva adelante sucesivos episodios, relatando decisiones trágicas en el tono cómico del humor negro y el absurdo. Como los tatuajes que le arman una provisoria piel al descubridor de canciones Martín Almeyda (quien, ojo, ojo porque esto es un spoiler: termina muy mal), nombres y canciones de bandas de rock constituyen un precario amparo simbólico que reparte identidades y produce acontecimientos: "todos los momentos de la vida están atravesados por una canción".

Al padre se lo recuerda en una única escena donde se da cuenta por televisión de que Mick Jagger está viejo; el sueño era encontrarse con Lou Reed en el supermercado y la aventura era ir a Cosquín Rock. Si no, en otoño, "lo mejor que se puede hacer es caminar de una esquina a la otra pisando hojas y sentir cómo suenan". Eso, o los vicios, a los cuales se alude sin moralina ni aura romántica. Una sociología salvaje observa que "los rollingas estudiaban para abogados, y los hardcore andaban con el proyecto de okupar un galpón de la estación y hacer cosas ahí, donde no había nada". El rock llega a esas vidas y se va; algunas vidas se van también, en otras se queda.

Como un Nick Hornby juninense y desesperado, Héctor hace de dee jay en su propia historia, narrando una epidemia local de suicidios adolescentes con escalofriante naturalidad, en frases que quedan resonando como las del punteo de una guitarra eléctrica: un libro para leer escuchando el nuevo disco de Charly García. O del Indio Solari.

15 de marzo de 2017 - Rosario12

LITERATURA. ¿QUIÉN NO PENSÓ EN MATARSE ALGUNA VEZ? POR CASAGRANDE EDICIONES

 

1 Comment